"A vitória brilhará àquele que tímido ouse". Agostinho da Silva

Quarta-feira, 12 de Março de 2014
Consenso dos géneros

Assinala-se no dia 8 de Março o Dia Internacional da Mulher. Serão, por estes dias, muitos os comentários e artigos sobre o tema e a necessidade de se continuar o caminho (ainda longo) da igualdade de géneros. Mas haverá sempre quem argumente que este é já um “não tema” e que, actualmente, não existe qualquer tipo de discriminação: respondo partilhando os números divulgados pela Comissão Europeia.

 

As mulheres na União Europeia trabalham mais 59 dias do que os homens para conseguirem ganhar o mesmo salário, sendo as disparidades entre géneros de 16,4% (2012). Se há países que se destacam pela positiva, como é o caso da Dinamarca, Áustria e Países Baixos, infelizmente Portugal apresenta números que nos envergonham e que se agravaram desde 2008. Nesse ano, a disparidade cifrava-se nos 9%, tendo subido para 12% no ano de 2012.

 

Estes números tornam indefensável a tese de que, em matéria de igualdade de géneros, estamos bem. Se é verdade que há 30 anos atrás o cenário era dantesco e era impensável ter mulheres em igualdade de circunstâncias com os homens no mundo laboral, face a estes dados divulgados pelo Relatório da Comissão Europeia não podemos defender nada menos do que, rapidamente, se esbata por completo esta sombra perturbadora de desigualdade entre géneros.

 

Há trabalho feito nesta matéria, como é disso exemplo a Resolução aprovada a 8 de Março de 2013 e que inclui medidas destinadas a garantir e a promover a igualdade de oportunidades entre géneros, mas falta transpor isso para as mentalidades dos empregadores, e da própria sociedade, que consentem que exista, em pleno século XXI, margem para discriminações.

 

Numa altura em que se lançou o debate nacional da Natalidade, pela urgência em inverter o ciclo que coloca em causa a renovação de gerações, não tenhamos dúvidas de que se tem de assumir, em primeiro lugar, que ainda existe discriminação entre géneros e, em segundo lugar, que a promoção da Natalidade não se faz sem garantir que as mulheres possam desempenhar o seu papel de Mães sem, com isso, abdicarem das suas carreiras ou se verem prejudicadas na sua vida profissional. Tantas vezes se pede para os partidos se entenderem... se há matérias para consensos? Coloquem esta no topo da lista!

  

Artigo publicado no Jornal de Leiria no dia 6 de Março



publicado por Margarida Balseiro Lopes às 10:07
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Segunda-feira, 30 de Dezembro de 2013
“A César o que é de César”

Ao aproximarmo-nos do final de 2013 é inevitável fazermos um balanço do ano que passou e avançarmos com algumas previsões para 2014, certeiras ou não o tempo o dirá.

 

Sabíamos que o ano de 2013 manteria no seu léxico as palavras “crise” e “austeridade”, permanecendo a dúvida e divergindo a doutrina quanto à introdução ou não da palavra “recuperação” na economia e no país real. Findo o ano de 2013, é altura de fazer um balanço.

 

Bem sei que não é politicamente correcto falarmos do que de bom colectivamente alcançámos em 2013, de tão habituados que estamos à dialéctica de comiseração dos responsáveis políticos, esquecendo-se que antes dos partidos que os elegeram estão as pessoas que representam.

 

Furando assim o discurso dominante, atrevo-me a destacar alguns dados que nos devem encher de orgulho e esperança para o ano que se avizinha. Por um lado, depois do desemprego ter atingido níveis socialmente alarmantes, assistimos à sua descida, tal como ao maior crescimento da taxa de emprego na Europa. Ao fim de 10 trimestres consecutivos, a economia saiu finalmente da recessão técnica, tendo as contas externas voltado a terreno positivo, com importante contributo das exportações e do turismo. Esta espiral positiva justifica, aliás, que o número de empresas em processo de insolvência tenha descido pela primeira vez desde 2008 e que este mês de Dezembro esteja a registar um aumento do consumo das famílias portuguesas face a 2012. Ao que já referi, acrescente-se a previsão do Banco de Portugal para 2014 de crescimento igual a 0,8%, acima dos 0,3% previstos no Verão.

 

Por tudo isto, acredito que o ano de 2014 será de retoma. Mas não julguem que pretendi destacar os feitos do Governo: se o fizesse estaria a cair no mesmo erro em que caem todos os responsáveis políticos que desconsideram os dados positivos da economia, temendo que estes beneficiem o partido A ou B. Esquecem-se que os grandes responsáveis por chegarmos até aqui, com motivos para nos orgulharmos, são os Portugueses.

 

Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 27 de Dezembro



publicado por Margarida Balseiro Lopes às 12:38
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Sexta-feira, 22 de Novembro de 2013
Reforma, do quê?!

Nos últimos tempos, parece que há opiniões mais legítimas do que outras. A comunicação social tem exacerbado a corrente, não sei se dominante, mas certamente mais audível, de que é quase um crime defendermos determinados pontos de vista.

 

Por um lado, não podemos criticar as decisões do Tribunal Constitucional, porque isso constitui uma pressão inaceitável junto de um dos órgãos de soberania. Também não devemos dizer que o Estado viveu acima das suas possibilidades, uma vez que isso é automaticamente atentar contra o Estado Social. Tal como sustentar que a emigração tem factores positivos que não podemos desconsiderar é politicamente inaceitável.

 

Vivemos numa sociedade de tabus, com uma evidente falta de cultura democrática. Há uma linha que separa o que é politicamente correcto de ser defendido do que será alvo do achincalhamento público imediato sem margem para se poder discutir, de facto, a raiz dos problemas.

 

Vivemos tempos extraordinários, em que o principal partido da oposição se dá ao luxo de furtar à discussão da Reforma do Estado, quando a meses da saída da Troika do nosso país, continuamos sem perceber que, doravante, teremos de mudar de vida e que o Estado como o conhecíamos já não existe.

 

Um Estado que se traduziu nos últimos 40 anos num decréscimo de 36% da população jovem e num aumento de 140% da população idosa não é, pela frieza e objectividade dos números, susceptível de continuar imutável e imune às alterações impostas pela evolução demográfica a que assistiu.

 

Querer redimensionar o Estado à nossa real capacidade de o financiarmos não é acabar com o Estado Social, é, antes, torná-lo viável e sustentável para servir quem mais precisa. Tenho dúvidas se ainda há quem não tenha entendido que a realidade mudou ou queira, numa aliciante demagogia e populismo, escamotear e fugir ao debate de uma geração.

 

Enquanto isso, continuamos, calmamente, a adiar o inadiável, perdidos na espuma dos dias, sem respostas para o nosso problema. E assim vai o Estado da Nação.

 

 

Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 21 de Novembro



publicado por Margarida Balseiro Lopes às 17:55
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Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2009
Homossexualizar a informação local

Mais de três décadas depois do 25 de Abril, não é dispiciendo fazer um primeiro balanço sobre a evolução da Imprensa Regional, em especial a que se tem publicado na Marinha Grande.

Um balanço necessariamente sumário, como antecâmara de um debate mais aprofundado que, porventura, nunca chegará a ser feito.
Se há “defeito” que possa ser diagnosticado no “modus vivendi” da capital vidreira, a incapacidade de reflectir sobre si própria não é, seguramente, o menor desses defeitos e reflectir sobre a história recente dos jornais locais não é exercício isento de riscos e que muitos queiram fazer, antes pelo contrário...
Aqueles que, como eu, olharam para o poder local com um misto de entusiasmo e apego à causa pública, foram ingénuos e não tardaram a compreender a responsabilidade dos orgãos de comunicação social locais no acompanhamento, controlo e denúncia do exercício de um poder que cedo deu mostras de ficar prisioneiro de interesses de caciques locais ou de corporações políticas, os quais nada tinham a ver com o interesse público. Antes pelo contrário, foram ficando cada vez mais prisioneiros desses interesses.
Neste contexto, a existência de jornais (e, mais tarde, também rádios) atentos e interventivos era condição essencial para que o poder local se sentisse observado e exposto perante aqueles que o iriam eleger – os eleitores. A qualidade da democracia local, o sentido crítico e vigilante desses eleitores tinha como pressuposto a existência de imprensa local capaz de cumprir a sua indeclinável função de guarda avançada da democracia e das suas instituições locais.
Compreendendo esse papel que estava reservado aos “media” locais, depressa os pontas de lança dos interesses políticos e económicos de muitos concelhos cerraram fileiras e apostaram na influência que o controlo desses “media” lhes iria permitir. Nuns casos, apostaram em orgãos de informação ja existentes, controlando-os, noutros seguiram uma estratégia um pouco mais inteligente – criaram os seus próprios orgão de informação (melhor, de propaganda), sob a forma de novos títulos ou de boletins municipais que o dinheiro dos contribuintes ia pagando. Em casos mais refinados e quando a publicidade municipal era fundamental à sobrevivência dos jornais, bastava orientar essa publicidade para orgão de informação que se prestassem a servir a auto-lisonja com que o poder tão bem convive.
Num e noutro caso, o propósito era o mesmo – impedir a existência de orgãos de comunicação isentos e dignificados, mesmo que à custa da subserviência e da mediocridade informativa para que, fatalmente, se caminharia.
Toda esta realidade passou pela Marinha Grande e serviu para, porfiadamente, alimentar uma espécie de “letargia revolucionária” que ia iludindo o eleitorado, tornando-o amorfo e sem sentido crítico.
Hoje, a Marinha Grande é um concelho sem projecto de futuro e sem capacidade de afirmação no contexto regional e nacional. É, também, uma terra com gritantes assimetrias sociais e económicas, refúgio de “vícios” e “chagas” sociais que já deviam ter merecido a reflexão e medidas de intervenção firme que as pudessem minimizar.
Em vez dessa reflexão, o que emerge é a indiferença e a incapacidade, mesmo quando a miséria humana é exposta com crueza como tão amiúde a encontramos nas ruas e avenidas da cidade.
Mas que importa esta preocupante realidade, se dela se alimentam interesses pessoais e de grupo que floresceram – e continuam a florescer - à custa do controlo dos “media” locais? Interesses que só na aparência se podem confundir com o interesse público já que, na verdade, é o interesse público que lhes está subordinado. Incluindo a comunicação social, esse quarto poder que se deixou homossexualizar numa estranha orgia de poder, por entre ruidosos silêncios de que uns poucos tiram prazer e muitos mais alimentam num foguetório ideológico feito de mediocridade e chavões já em desuso.
E porque a realidade merece que sobre ela reflictamos mais aprofundamente, não se esgotando num único artigo de análise e opinião, brevemente aqui estarei a escrever sobre o mesmo assunto.
 
Até breve,
 
Fernando Lopes


publicado por Margarida Balseiro Lopes às 23:30
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