Assinala-se no dia 8 de Março o Dia Internacional da Mulher. Serão, por estes dias, muitos os comentários e artigos sobre o tema e a necessidade de se continuar o caminho (ainda longo) da igualdade de géneros. Mas haverá sempre quem argumente que este é já um “não tema” e que, actualmente, não existe qualquer tipo de discriminação: respondo partilhando os números divulgados pela Comissão Europeia.
As mulheres na União Europeia trabalham mais 59 dias do que os homens para conseguirem ganhar o mesmo salário, sendo as disparidades entre géneros de 16,4% (2012). Se há países que se destacam pela positiva, como é o caso da Dinamarca, Áustria e Países Baixos, infelizmente Portugal apresenta números que nos envergonham e que se agravaram desde 2008. Nesse ano, a disparidade cifrava-se nos 9%, tendo subido para 12% no ano de 2012.
Estes números tornam indefensável a tese de que, em matéria de igualdade de géneros, estamos bem. Se é verdade que há 30 anos atrás o cenário era dantesco e era impensável ter mulheres em igualdade de circunstâncias com os homens no mundo laboral, face a estes dados divulgados pelo Relatório da Comissão Europeia não podemos defender nada menos do que, rapidamente, se esbata por completo esta sombra perturbadora de desigualdade entre géneros.
Há trabalho feito nesta matéria, como é disso exemplo a Resolução aprovada a 8 de Março de 2013 e que inclui medidas destinadas a garantir e a promover a igualdade de oportunidades entre géneros, mas falta transpor isso para as mentalidades dos empregadores, e da própria sociedade, que consentem que exista, em pleno século XXI, margem para discriminações.
Numa altura em que se lançou o debate nacional da Natalidade, pela urgência em inverter o ciclo que coloca em causa a renovação de gerações, não tenhamos dúvidas de que se tem de assumir, em primeiro lugar, que ainda existe discriminação entre géneros e, em segundo lugar, que a promoção da Natalidade não se faz sem garantir que as mulheres possam desempenhar o seu papel de Mães sem, com isso, abdicarem das suas carreiras ou se verem prejudicadas na sua vida profissional. Tantas vezes se pede para os partidos se entenderem... se há matérias para consensos? Coloquem esta no topo da lista!
Artigo publicado no Jornal de Leiria no dia 6 de Março
Os últimos dias foram marcados pelas reacções à morte de seis jovens na praia do Meco. Pelos comentários que li e ouvi, retirei algumas ilacções.
Observei, desde logo, a rapidez com que muitos sentenciaram o único sobrevivente como o culpado pela morte dos colegas. Muito antes de se conseguir apurar se se pode imputar qualquer tipo de responsabilidade a terceiros, surgiu, de repente, em Portugal um vasto número de “especialistas anónimos” disposto a relatar o que supostamente terá acontecido, tentando, por certo, poupar tempo e trabalho às forças policiais. A isto soma-se um infindável número de notícias sobre factos que alimentou aquilo que poderá ter alguma ou nenhuma importância em sede de investigação criminal. Juntou-se a fome à vontade de comer: a ânsia de vender notícias foi alimentada pela necessidade mórbida da opinião pública ter tema de conversa para os dias que se seguiram à tragédia.
Seguiu-se à fase da crucificação do único sobrevivente, a fase de diabolização da praxe: como se a praxe em Portugal pudesse ser traduzida nas práticas que vieram a público e que – alegadamente – eram realizadas por aquele grupo de jovens. Há já quem defenda o fim da praxe ou, os mais moderados, peçam legislação para evitar que haja lugar a abusos no futuro. Pois é, mas ignoram dois aspectos essenciais: as mentalidades não se mudam por decreto e aquilo que se passou no Meco não reflecte, nem de perto nem de longe, a praxe em Portugal, um fenómeno intemporal de integração de jovens na vida académica. Depois, ainda há margem para delírios opinativos como aquele em que alguém correlaciona o que aconteceu no Meco e a praxe ao elitismo do nosso Ensino Superior. Com todo o respeito, santa estupidez!
De todo este enredo, destaco a rapidez com que fazemos julgamentos sumários, com base em factos que desconhecemos. Espero que a fase seguinte seja a da serenidade, em que o Ministério Público possa fazer o seu trabalho e possam as famílias fazer o seu luto, longe do dantesco circo mediático.
Artigo publicado no Jornal de Leiria no dia 30 de Janeiro
Ao aproximarmo-nos do final de 2013 é inevitável fazermos um balanço do ano que passou e avançarmos com algumas previsões para 2014, certeiras ou não o tempo o dirá.
Sabíamos que o ano de 2013 manteria no seu léxico as palavras “crise” e “austeridade”, permanecendo a dúvida e divergindo a doutrina quanto à introdução ou não da palavra “recuperação” na economia e no país real. Findo o ano de 2013, é altura de fazer um balanço.
Bem sei que não é politicamente correcto falarmos do que de bom colectivamente alcançámos em 2013, de tão habituados que estamos à dialéctica de comiseração dos responsáveis políticos, esquecendo-se que antes dos partidos que os elegeram estão as pessoas que representam.
Furando assim o discurso dominante, atrevo-me a destacar alguns dados que nos devem encher de orgulho e esperança para o ano que se avizinha. Por um lado, depois do desemprego ter atingido níveis socialmente alarmantes, assistimos à sua descida, tal como ao maior crescimento da taxa de emprego na Europa. Ao fim de 10 trimestres consecutivos, a economia saiu finalmente da recessão técnica, tendo as contas externas voltado a terreno positivo, com importante contributo das exportações e do turismo. Esta espiral positiva justifica, aliás, que o número de empresas em processo de insolvência tenha descido pela primeira vez desde 2008 e que este mês de Dezembro esteja a registar um aumento do consumo das famílias portuguesas face a 2012. Ao que já referi, acrescente-se a previsão do Banco de Portugal para 2014 de crescimento igual a 0,8%, acima dos 0,3% previstos no Verão.
Por tudo isto, acredito que o ano de 2014 será de retoma. Mas não julguem que pretendi destacar os feitos do Governo: se o fizesse estaria a cair no mesmo erro em que caem todos os responsáveis políticos que desconsideram os dados positivos da economia, temendo que estes beneficiem o partido A ou B. Esquecem-se que os grandes responsáveis por chegarmos até aqui, com motivos para nos orgulharmos, são os Portugueses.
Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 27 de Dezembro
Nos últimos tempos, parece que há opiniões mais legítimas do que outras. A comunicação social tem exacerbado a corrente, não sei se dominante, mas certamente mais audível, de que é quase um crime defendermos determinados pontos de vista.
Por um lado, não podemos criticar as decisões do Tribunal Constitucional, porque isso constitui uma pressão inaceitável junto de um dos órgãos de soberania. Também não devemos dizer que o Estado viveu acima das suas possibilidades, uma vez que isso é automaticamente atentar contra o Estado Social. Tal como sustentar que a emigração tem factores positivos que não podemos desconsiderar é politicamente inaceitável.
Vivemos numa sociedade de tabus, com uma evidente falta de cultura democrática. Há uma linha que separa o que é politicamente correcto de ser defendido do que será alvo do achincalhamento público imediato sem margem para se poder discutir, de facto, a raiz dos problemas.
Vivemos tempos extraordinários, em que o principal partido da oposição se dá ao luxo de furtar à discussão da Reforma do Estado, quando a meses da saída da Troika do nosso país, continuamos sem perceber que, doravante, teremos de mudar de vida e que o Estado como o conhecíamos já não existe.
Um Estado que se traduziu nos últimos 40 anos num decréscimo de 36% da população jovem e num aumento de 140% da população idosa não é, pela frieza e objectividade dos números, susceptível de continuar imutável e imune às alterações impostas pela evolução demográfica a que assistiu.
Querer redimensionar o Estado à nossa real capacidade de o financiarmos não é acabar com o Estado Social, é, antes, torná-lo viável e sustentável para servir quem mais precisa. Tenho dúvidas se ainda há quem não tenha entendido que a realidade mudou ou queira, numa aliciante demagogia e populismo, escamotear e fugir ao debate de uma geração.
Enquanto isso, continuamos, calmamente, a adiar o inadiável, perdidos na espuma dos dias, sem respostas para o nosso problema. E assim vai o Estado da Nação.
Artigo publicado na edição do Jornal de Leiria de 21 de Novembro
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