"A vitória brilhará àquele que tímido ouse". Agostinho da Silva
Terça-feira, 4 de Fevereiro de 2014
Ainda o tema da praxe

Os últimos dias foram marcados pelas reacções à morte de seis jovens na praia do Meco. Pelos comentários que li e ouvi, retirei algumas ilacções.

 

Observei, desde logo, a rapidez com que muitos sentenciaram o único sobrevivente como o culpado pela morte dos colegas. Muito antes de se conseguir apurar se se pode imputar qualquer tipo de responsabilidade a terceiros, surgiu, de repente, em Portugal um vasto número de “especialistas anónimos” disposto a relatar o que supostamente terá acontecido, tentando, por certo, poupar tempo e trabalho às forças policiais. A isto soma-se um infindável número de notícias sobre factos que alimentou aquilo que poderá ter alguma ou nenhuma importância em sede de investigação criminal. Juntou-se a fome à vontade de comer: a ânsia de vender notícias foi alimentada pela necessidade mórbida da opinião pública ter tema de conversa para os dias que se seguiram à tragédia.

 

Seguiu-se à fase da crucificação do único sobrevivente, a fase de diabolização da praxe: como se a praxe em Portugal pudesse ser traduzida nas práticas que vieram a público e que – alegadamente – eram realizadas por aquele grupo de jovens. Há já quem defenda o fim da praxe ou, os mais moderados, peçam legislação para evitar que haja lugar a abusos no futuro. Pois é, mas ignoram dois aspectos essenciais: as mentalidades não se mudam por decreto e aquilo que se passou no Meco não reflecte, nem de perto nem de longe, a praxe em Portugal, um fenómeno intemporal de integração de jovens na vida académica. Depois, ainda há margem para delírios opinativos como aquele em que alguém correlaciona o que aconteceu no Meco e a praxe ao elitismo do nosso Ensino Superior. Com todo o respeito, santa estupidez!

 

De todo este enredo, destaco a rapidez com que fazemos julgamentos sumários, com base em factos que desconhecemos. Espero que a fase seguinte seja a da serenidade, em que o Ministério Público possa fazer o seu trabalho e possam as famílias fazer o seu luto, longe do dantesco circo mediático.

 

Artigo publicado no Jornal de Leiria no dia 30 de Janeiro



publicado por Margarida Balseiro Lopes às 14:26
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Março 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

Consenso dos géneros

Ainda o tema da praxe

“A César o que é de César...

Reforma, do quê?!

Globalização

A Cacatua Verde

Direito a envelhecer com ...

A Música dos Deolinda

Coisas da infância

Poemas da minha vida (II)

Poemas da minha vida (I)

Moleskine

Natal

A fenomenal Mariza a marc...

A minha intervenção - 25 ...

arquivos

Março 2014

Fevereiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Fevereiro 2012

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

tags

todas as tags

links
blogs SAPO
subscrever feeds