Os últimos dias foram marcados pelas reacções à morte de seis jovens na praia do Meco. Pelos comentários que li e ouvi, retirei algumas ilacções.
Observei, desde logo, a rapidez com que muitos sentenciaram o único sobrevivente como o culpado pela morte dos colegas. Muito antes de se conseguir apurar se se pode imputar qualquer tipo de responsabilidade a terceiros, surgiu, de repente, em Portugal um vasto número de “especialistas anónimos” disposto a relatar o que supostamente terá acontecido, tentando, por certo, poupar tempo e trabalho às forças policiais. A isto soma-se um infindável número de notícias sobre factos que alimentou aquilo que poderá ter alguma ou nenhuma importância em sede de investigação criminal. Juntou-se a fome à vontade de comer: a ânsia de vender notícias foi alimentada pela necessidade mórbida da opinião pública ter tema de conversa para os dias que se seguiram à tragédia.
Seguiu-se à fase da crucificação do único sobrevivente, a fase de diabolização da praxe: como se a praxe em Portugal pudesse ser traduzida nas práticas que vieram a público e que – alegadamente – eram realizadas por aquele grupo de jovens. Há já quem defenda o fim da praxe ou, os mais moderados, peçam legislação para evitar que haja lugar a abusos no futuro. Pois é, mas ignoram dois aspectos essenciais: as mentalidades não se mudam por decreto e aquilo que se passou no Meco não reflecte, nem de perto nem de longe, a praxe em Portugal, um fenómeno intemporal de integração de jovens na vida académica. Depois, ainda há margem para delírios opinativos como aquele em que alguém correlaciona o que aconteceu no Meco e a praxe ao elitismo do nosso Ensino Superior. Com todo o respeito, santa estupidez!
De todo este enredo, destaco a rapidez com que fazemos julgamentos sumários, com base em factos que desconhecemos. Espero que a fase seguinte seja a da serenidade, em que o Ministério Público possa fazer o seu trabalho e possam as famílias fazer o seu luto, longe do dantesco circo mediático.
Artigo publicado no Jornal de Leiria no dia 30 de Janeiro
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